
Às vezes nós repetimos frases
antigas (e preconceituosas) sem saber a razão. Assisti no History Channel um
documentário sobre a era vitoriana (que acabou em 1901) e descobri que lá
surgiram vários dos preconceitos ainda hoje repassados de mãe para filha.
Antes da ascensão ao trono da
rainha Vitória, a vida da aristocracia era baseada em orgias e escândalos. Por
volta de 1830, a
burguesia passou a ter forte influência e, para se diferenciar da aristocracia “suja”,
começou a pregar a moralidade.
Em 1837, após a coroação, a
rainha Vitória tornou-se adepta desse movimento moralista.
Essa tal moralidade veio da
seguinte forma: os homens eram os representantes da família no mundo exterior,
ao passo que às mulheres incumbia a guarda da moral e da castidade, proteção do
lar e dos filhos, com funções estritamente destinadas ao âmbito doméstico.
A prática sexual entre pessoas
casadas era recomendada para fins meramente reprodutivos. As mulheres entendiam
nada sobre sexo, sendo-lhes aconselhado que ficassem quietas e deixassem o ato
ser conduzido pelo marido.
Livros médicos recomendavam que o
casal mantivesse relações somente duas vezes ao mês ou, até, uma vez ao ano,
variando conforme o autor.
Os próprios médicos (ao menos na
Inglaterra) não podiam tocar o corpo das mulheres nos locais usualmente cobertos
e, da mesma forma, era proibida a autópsia em cadáveres femininos. A anatomia
feminina era desconhecida e qualquer doença caracterizada, genericamente, como “histeria”.
Há relato, inclusive, de uma freqüentadora da corte que foi diagnosticada
portadora de “histeria” quando, na verdade, detinha um grave câncer abdominal.
Estranho essa forma de agir numa
época em que ciência estava se distanciando com tanta força da religião e
desses quesitos morais bobos.
Bom, mas voltando ao assunto, o
resultado de tudo isso é o seguinte:
Como o único prazer das mulheres
decentes resumia-se a cuidar do lar, dos filhos e do marido (isto conforme
livros médicos, inclusive), restava aos homens procurar os “outros prazeres” em
dependências alheias.
A pornografia cresceu muito no
período vitoriano, assim como a prostituição. Os mais abastados possuíam a
esposa angelical em casa e uma anfitriã, vulgo prostituta de luxo, em hotéis e
afins. Alguns viviam como se fossem casados com ambas.
Mas o problema ainda é outro: na
prostituição de alto nível as cafetinas se preocuparam com a saúde de suas
moças e “fiscalizavam” os freqüentadores das casas, assim como, distribuíam preservativos
e outras formas de proteção. Todavia, na prostituição de baixo nível, que
ocorria em bares de esquina e nas ruas, não havia qualquer proteção, fazendo
com que o número de DST´s aumentasse, causando um grande número de mortes.
Ainda e, logicamente, a idéia
prevalente na época é a de que boas moças casavam virgens e sua reputação era
baseada na virgindade. Em contrapartida, as mocinhas virgens viraram fetiche de
homens de alto nível, que pagavam caro pelo seu rapto, a fim de possuí-las
(refiro-me a crianças de 12/13 anos).
Outro caso curioso é que, apesar
de tabu e devidamente ocultado, os índices de homossexualismo no período
vitoriano era enormes! Os meninos usualmente iniciavam sua vida sexual no
colégio, com outros colegas.
Com a morte da rainha Vitória,
várias moças passaram a exigir a mudança dessa ridícula situação social em que
muitas mulheres se quer eram donas de sua própria sexualidade.
Na época as mulheres eram
divididas em dois grupos: 1) Donas do lar, guardiãs da família, bons costumes e
alheias aos prazeres carnais. 2) Anfitriãs e prostitutas, destinadas a suprir os
prazeres que os maridos não recebiam no lar.
Hoje essa divisão ainda permanece
na cabeça de muitos homens e mulheres, principalmente aqueles pertencentes às
gerações mais antigas.
Ou, infelizmente, nas gerações
mais novas, em frases do tipo: “a fulana é boa para sair, mas não é boa para
casar.” - Resquícios do período vitoriano.
A idéia de que a boa esposa e boa
mãe é um ser quase assexuado ainda é muito forte em nossa sociedade.
Pô pessoal, a rainha morreu em
1901! Nós estamos em 2011! Passou tempo suficiente, né?